quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Reveillon do herói de samba-canção!

Por volta de 8 anos atrás, passei a virada de ano na praia, no apartamento do meu tio.

Na verdade, 3 tios meus tem apartamento neste mesmo prédio.

Impressionante como paulista tem que descer a serra no reveillon.

Pega o mega transito, a praia está sempre imprópria para mergulho e nas sete ondinhas sempre rola pisar em um caule de rosa oferecido a Iemanjá e cortar a sola do pé no espinho.

Como diria o Paulão: - Duro é quando a água gelada bate no saco.

Segundo minha mãe, entraríamos no ano do Dragão, do calendário Japonês.

Como bom rato de praia que sou, volto da balada pela manhã, e ao contrário de toda família, acordo quando o sol já se foi...

Não entro no mar há mais de 10 anos.

O mais próximo que chego da água salgada é na guerrinha de champanhe barato na hora dos fogos!!


No dia 30/12, já curtia um sono profundo, quando meu tio, desesperado, começa a socar a porta:
- Acorda Fabão, P.Q.P, acorda, o prédio está pegando fogo!!
- Vai tomar no cú, tio!!

Mas a irritante persistência do coroa fez com que, apenas de samba canção, eu fosse tomar café da manhã.

O cara estava alucinado, insistindo que o incêndio estava catastrófico e precisávamos “correr pra não morrer”.
Pq paulista precisa fazer riminhas para ressaltar o risco de morte??
“Água no umbigo, sinal de perigo”, “Parar de fumar, basta Fumasil mastigar”, “Um, dois, três, vamos todos de uma vez”.
Calmamente, fui para a mesa do café e comecei minha boquinha: pão de forma, requeijão e salaminho...

O Debil jogou o pote de requeijão na parede, e aos berros profetizava:
- Fudeu!! Essa hora não tem mais como sair do prédio!! Melhor irmos para a cobertura!! Devem ter chamado um helicóptero...

Conhecendo minha família, sabia que era golpe... Mas conhecendo minha família, também sabia que ninguém joga o requeijão na parede!! Família de gordo pensa mais na santa ceia que em Deus!!

Aceitando que a encenação era boa, dirijo-me até a sacada para ver o tal incêndio, e para minha surpresa, o prédio estava em chamas!!!


Percebendo a gravidade da situação, fui até o freezer, joguei umas brejas geladas numa sacola plástica e, ainda vestido apenas de samba canção, decretei:

- Vamos pra praia salgar a bunda!!

Chamei o elevador!!
Essa hora meu tio deu a luz a quadrigêmeos de Itu, de parto normal sem anestesia, explicando o perigo de pegar elevador no incêndio...
- Foda-se tio, não vou descer 18 andares de escada nem por decreto!! E abri a primeira latinha!!

Pedir para gordo usar escada é pior que falar pra quem sofre de hemorróida fazer exame de fezes!!
O elevador chega, eu entro... meu tio, chorando entra, reclamando!! Reza alto!!
Nunca foi a igreja, a não ser no casamento da Tia Beth, em 1997, encalhada desde 1958. Abro a segunda latinha...

O elevador para no primeiro andar... minha mãe e minha prima, aos prantos, nos abraçam e fazem juras de amor eterno.
- Fabioooooooo, eu tive tanto medo de te perder!! Vc é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
Abro a terceira latinha...

Meu tio lembra do filme “corpo fechado”, com Bruce Willis, e começa um discurso comovente sobre a importância da família, amor e a vida.
- Vai tomar no cú, tio!!

Ainda soluçando, minha prima conta que na porta do prédio tem policiais, bombeiros e até a TV Tribuna, filiada da Rede Globo, na baixada...
- “Opa” - penso eu!!! Criatividade é uma merda...

Rapidamente termino a quarta latinha, passo a mão no chão, sujando meu rosto com a poeira, pego o yorkshire (Fruffy, cachorro da minha prima) e corro em direção a porta principal do prédio!
A equipe de reportagem da TV Tribuna vem em minha direção.

Explico, exatamente, como tudo aconteceu:
Estava fazendo minhas flexões matinais, quando comecei a sentir um cheiro de queimado...

Sai na janela e vi o prédio em chamas...
Prontamente acordei meu tio, que dormia no quarto ao lado e, sem tempo nem de pegar uma roupa começamos a descer pelas escadas.

Apertei a campainha de todos apartamentos que passei, no intuito de alertar algum dorminhoco descuidado!!

O calor e a fumaça, dificultaram muito essa empreitada pela vida, mas bravamente ajudei meu tio e seguimos na árdua missão de passar pelo andar do incêndio.

Quando não era possível enxergar um palmo a frente do rosto e para complicar ainda mais a descida, ouço um latido, que me fez entrar em um dos andares, achando um cachorro perdido, sem chances de salvar-se por conta própria. Levei-o comigo!!

Isso fez com que eu perdesse meu tio de vista. Difícil respirar com tanta fumaça.
Em alguns momentos, achei que não conseguiria...


Atentamente a equipe da TV Tribuna filmava e a repórter pergunta se eu não temi pela minha vida quando fui atrás do animal.

- Nem pensei em mim, só no pobre animal!!
 Alguns transeuntes curiosos batem palmas... minha prima faz uma careta!

Apareci na TV Tribuna no dia 31/12, antes da famosa virada da Globo, comandada pelo Faustão.
A manchete?? “No ano do Dragão, o herói usa samba canção!!” (mais uma riminha paulista safada)
Fui reconhecido por várias pessoas no calçadão. Era mais assediado que o Supla depois da casa dos artistas...

Engraçado como as pessoas ficam mais emotivas essa época do ano.
- Não é vc que salvou o cachorrinho do incêndio?? Adorei a samba canção!! Vem conhecer minha neta.
- Putz !! É realmente o ano do Dragão...

Toda família entrou no clima, e queriam aparecer...
- E de pensar que eu o carreguei no colo!!
- Vai tomar no cú, tio!!

E dessa maneira tosca, a Banda Papel Higiênico deseja muitas mamães Noel, cervejas e rock & roll a todos...


Texto e champignons by Fabão

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